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Mais Fortes que Bombas (2015)

Qualquer adição básica que você tiver poderá ajudar a solucionar o significado de Mais Forte que Bombas (2015) nos seus primeiros dez minutos. Joachim Trier, cineasta norueguês, que fez sua estreia – ainda que de forma bastante tímida – em 2006 com Reprise, ressurgindo anos mais tarde com Oslo, 31 de Agosto (2011), é um homem de quietude pronunciada. Um cineasta detentor de uma habilidade surpreendente em amplificar o silêncio de maneira bem ensurdecedora. Além disso, Trier não é o tipo de diretor que se constrói através das oscilações dramáticas, mas nas abordagens que muitos poderiam interpretar como um chamado frio ou distante, mas que, para o próprio Trier, é sinônimo de empatia. Isto é, Trier se transforma em uma testemunha implacável, o que não significa que seja insensível.

Mais Forte que Bombas demonstra a relação entre a observação e a compaixão com bastante clareza. É um filme onde o silêncio não indica a ausência de calor, mas sua presença. Além do mais, o filme é construído em torno dos sentimentos de culpa, tristeza, solidão, raiva e incerteza. É um filme onde as apostas dependem de um encerramento.

Trier escreve a trama em torno da fotógrafa de guerra Isabelle Reed (Isabelle Huppert), que sobrevive a uma carreira documentando horrores no mundo todo para então morrer em um acidente de carro. O acidente ocorre anos antes dos acontecimentos do filme. No presente, nos familiarizamos com o marido, Gene (Gabriel Byrne), e seus dois filhos, o mais velho Jonas (Jesse Eisenberg) e o mais jovem Conrad (Devin Druid), e a maneira como cada um lida com essa perda.

Trier não está interessado no melodrama, mas sim em seus personagens, inclusive Isabelle, que passamos a conhecer através dos flashbacks e de algumas das suas fantasias nos seus momentos finais. Em sua mente, Conrad visualiza imagens de como (supostamente) teria ocorrido o acidente, reunindo a colisão com toda a arte visual e poética de um cineasta muito diferente. Ou seja, é uma coisa bonita, mas tudo fantasia, e nós sabemos disso.

O fosso que separa Conrad da realidade é muito parecido com as lacunas que Trier instala entre Conrad e Gene, entre Gene e Jonas, entre Jonas e Conrad, entre Isabelle e os homens em sua vida e entre nós e os personagens. Mas, para toda a sua divisão, essas pessoas amam uns aos outros. Só não sabem dizer isso, ou não podem porque foram atingidos pela tristeza. Todos eles são estranhos entre si, especialmente Isabelle. No terceiro ato do filme, Richard explica para Gene a tensão que Isabelle suportou em vida.

Trier mantém um controle sobre seus personagens através da narrativa visual. Sua estética não é chamativa, mas ele compreende o quanto a sua câmera força os próprios personagens a se relacionarem entre eles. Quando assistimos Gene seguindo Conrad, vemos um pai desesperado para ter qualquer tipo de ligação com seu filho, mesmo que a criança não esteja necessariamente ciente. Entretanto, mais tarde, descobrimos que Conrad sabe da atitude de Gene e tudo o que vemos do ponto de vista de Gene se transforma.

Trier continua sendo um espectador. Ele não interfere na interação do seu excelente elenco, inclusive com Huppert, que permanece enigmática mesmo quando nos obriga a considerar as intenções artísticas de Trier. Mesmo que de forma remota e indiferente como seu estilo possa parecer, Trier continua sendo um dos diretores mais humanistas.

#jun #joachimtrier