Cartas para alma que ficou.
Por vezes, viver me pareceu insuportável.
Mas ainda assim, eu fiquei.
Há dias em que o corpo pesa mais do que aguenta.
Dias em que o coração parece bater no modo automático, como quem só cumpre tabela no jogo da vida.
Eu já vivi dias assim. E confesso: tem horas que eu ainda vivo.
Já houve momentos em que, num impulso de desespero, tomei três garrafas de água de uma vez, como quem diz: “chega.”
Não de sede. Mas de dor.
Não pela boca, mas pela alma.
Era como se eu quisesse me afogar por dentro pra calar o grito que ninguém escutava.
E houve aquela vez em que cortei as redes da janela.
Inclinei o corpo.
Não pulei.
Mas não foi por falta de tristeza. Foi por medo de não dar certo nem pra morrer.
É duro viver assim e ainda ter que sorrir.
É cruel precisar explicar para os outros — e pra si mesma — que não se trata de falta de fé ou gratidão, mas de uma fadiga existencial que só quem carrega o próprio corpo como uma prisão consegue entender.
A vida, às vezes, parece uma sentença.
Mas aos poucos, venho entendendo:
Não é uma sentença. É um chamado.
Chamado pra cuidar do que resta.
Do que pulsa.
Do que ainda sonha.
Hoje, meu corpo precisa de diálise, minha mente pede descanso e minha alma grita por liberdade.
E entre tudo isso, eu sigo tentando me escutar.
Porque a verdade é que, apesar de tudo, ainda mora poesia em mim.
E ela resiste.
Ainda sou livre onde ninguém toca: na minha criatividade.
Ainda sou inteira quando escrevo.
Ainda me emociono com pequenos milagres: um trecho de música, o cheiro do café, um trecho bonito de livro, o riso da minha cachorra.
A vida não ficou mais leve.
Mas eu fiquei mais forte.
Mais real.
Mais amorosa comigo.
E se eu pudesse hoje abraçar a Rose que sofreu tudo aquilo, eu diria:
“Você é foda. Ainda está aqui. E olha tudo que construiu mesmo sem ter todas as ferramentas.
Você ama, cria, acredita, insiste.
E é por você que eu continuo.
Por nós.”
Talvez não fique tudo bem. Mas ainda pode acontecer algo incrível.
E eu quero estar aqui pra ver.