#000136 – 01 de Abril de 2020

Em Black Marrow, de Ben Frost, há uma fera. Debaixo da pele, por debaixo do gelo, ondula um rosnar, oscilando entre o humano e o monstruoso. Uma aflição lunar, um ofegar de animal perseguido. A síntese granular sugere transmissão analógica, primeiro contacto com alienígenas, interferência. Sinais de rádio, grunhidos, um pulsar de vida, misturam-se como num casulo telúrico. Escutar este álbum é receber algo que vai eclodir, precioso, urgente.

Em Feral Hymns, Os Lungfish repetem riffs. A imprecisão do rock impede que os instrumentos soem a loop. Mas são frases curtas, os segmentos da bateria e guitarras. Wailing Like Dragons assenta em 4 segundos, num ciclo simples e vulcânico. Nas outras 9 canções, a mesma tensão de dança interior. Daniel Higgs canta em contida emoção. Os hinos ferais são sementes de vibração que soam ainda no peito depois do silêncio vir.