#000166 – 01 de Maio de 2020
Há quase dois anos eu regressava a Portugal. Talvez fosse mesmo a primeira viagem, desde que me tinha mudado para a Grécia. Trabalhadores da Ryanair estavam em greve. Os meus voos poderiam ser cancelados. Informei-me das reivindicações. Receber o salário mínimo do sector, pararem os despedimentos ilegais, sem direito a compensação. A fasquia era mínima.
Hoje, trabalhadores das grandes cadeias de distribuição estão em greve. E parece que voltámos ao início dos movimentos de protesto sindical, com a revolução industrial. O que pedem é incrivelmente modesto. Alguma coisa de muito errado aconteceu, para que as pessoas de que mais precisamos sejam tratadas tão desumanamente, em pleno cenário de risco das suas vidas.
Os logotipos da Amazon, da Walmart e de outros estão manchados de sangue. Novo resgate financeiro já permitiu distribuir “lucros” a Companhias e os dividendos para uma mão cheia de obscuros senhores do mundo serão impressionantes. Temos de nos unir contra isto. Tristemente, vamos começar com o mínimo, porque nem o mínimo é considerado por estes gigantes que aceleram um caminho de tornar o ser humano obsoleto. Antes que tudo piore, vamos unir-nos. Como diz Srećko Horvat, em “Poetry from the Future”, precisamos de esperança sem optimismo.