#000237 – 11 de Julho de 2020
A liberdade assusta muita gente. É ideia demasiado vaga e aberta. Algo que queima abrindo um buraco no tecido social, alargando mais e mais a possibilidade da queda. Parte da resistência à ideia de rendimento básico universal é uma reformulação de medos antigos.
Se as pessoas tiverem o que comer, onde dormir, puderem educar-se e exprimir-se livremente, a sociedade colapsa. Quem fará os trabalhos que ninguém deseja? Como evitar um hedonismo infernal, a precipitar o fim de tudo?
Este pessimismo, que se fixa no obstáculo sem refletir suficientemente sobre o percurso, não é só coisa de capitalistas e autoritários. É também um dos antagonismos entre anarquistas e comunistas. O anarquismo funda-se na colaboração voluntária, o comunismo não prescinde da ideia de mobilização das pessoas. É um nó, uma dificuldade bem real, este medo de melhorar.
A noção que temos do ser humano vai determinar os limites em que definimos o social. Mas o social é precisamente esse espaço problemático. Essa zona de conflito e diferença. Isso nem é bom nem é mau. A cooperação só existe porque há indivíduos. Uma colónia de formigas é chamada também de superorganismo. As formigas não têm verdadeira individualidade, por isso não podem constituir uma sociedade.
A utopia não é a transformação dos nossos conflitos num superorganismo perfeito, em que cada humano-formiga é infinitamente feliz. É antes uma ideia muito simples: existe sociedade.