#000239 – 13 de Julho de 2020

“Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo”. O verso de Alexandre O'Neill lembra que um país também não é uma identidade, uma coisa precisa e delimitada. Não só não cabe na letra de um hino e não é contido dentro das suas próprias fronteiras. No poema de O'Neill, é a própria ideia de portugalidade que é posta em causa. “Se fosses só” é a anáfora usada para interpelar todas as ideias de cultura popular, de trejeitos e melancolias, de afinidades e tradições, de memes culturais identificáveis. Não é feita sequer uma pergunta. Há uma incerteza feita de colocar os elementos problemáticos à tona, mostrando que aí se pressente, mas não se identifica Portugal. Uma nacionalidade nem sequer não existe. Seria tão difícil negá-la como defendê-la. É um conflito, em que colapsam a história e a política. Conseguimos ver os elementos da sua construção, mas não há forma de a construir definitivamente.