#000249 – 23 de Julho de 2020
Autómato é ideia antiga. Pelo menos desde a Antiguidade Grega que se sonha com máquinas que nos imitem, mas apenas o suficiente. Uma espécie de escravos, sem os problemas morais que a escravatura coloca. Servos artificiais. Máquinas que nos substituem nos trabalhos físicos, menores. Desde a Revolução Industrial que a automatização não parou de acelerar. Teve resistência. Luditas e sabotadores, relutantes em deixar que máquinas roubassem empregos.
De uma forma ou de outra, e mesmo independentemente de se gostar ou não da automatização generalizada, acreditou-se que as máquinas fariam o que consideramos “mecânico”. Que a mente humana seria um último reduto, praticamente insubstituível. Nas visões arcadianas, os autómatos fazem tudo o que não é intelectual ou artístico, deixando os humanos livres para essas atividades mais nobres. Nas visões distópicas, o espírito humano é quebrado porque nem os trabalhos precários sobraram e as pessoas perderam lugar na máquina maior, deixaram de ser consideradas peças úteis.
O que não se previu foi esta inversão: afinal as máquinas aprendem mais facilmente a substituir os trabalhos repetitivos que têm a ver com a linguagem. O machine learning, o deep learning e as outras modalidades da chamada Inteligência Artificial alimentam-se do trabalho semântico dos humanos. São parasitas cognitivos. Depois de aprenderem o suficiente fazem o mesmo ou semelhante, sem necessitar de salário ou contrato de trabalho. Quem será difícil de substituir por mais algum tempo é quem faz tarefas físicas complexas, como os canalizadores. Quanto aos artistas, a questão está muito mais em aberto. E depende, por enquanto, ainda de nós humanos. Que papel queremos para a arte, que lugar para os artistas?