#000271 – 15 de Agosto de 2020

George R. R. Martin é fã de Tolkien. Ainda assim, diz, há uma diferença fundamental na sua própria fantasia. Em Lord of The Rings, o mal é algo externo. As criaturas malignas são absolutamente malignas. Os orcs não têm nenhum traço humano, nenhum átomo redimível. Formam as hostes de Sauron, o mal absoluto, mais aterrador que o próprio Satanás, da teologia Católica. Em Tolkien, o mal ameaça a própria existência, a viabilidade do mundo. Satanás, senhor do mundo, pelo contrário, tem o seu lugar, como se vê no livro de Job. Nisto, o catolicismo do escritor inglês dá lugar ao seu fascínio pela mitologia nórdica. Os eventos de Lord of The Rings fazem lembrar mais o Ragnarök que o Apocalipse. É a morte do próprio bem e dos deuses, que está em causa.

Já para George R. R. Martin, afirma o próprio, o mal é algo interior, que vive no coração humano. Em cada decisão humana, quer o bem quer o mal são opções. Um outro aspecto de Game of Thrones, surpreendente, foi sugerido por Tristan Garcia. Diz o filósofo francês que a série de George R. R. Martin é uma das grandes obras de realismo actuais. Que na narrativa da obra a grande motivação é o realismo político. Tudo é apresentado como um jogo de interesses políticos pragmáticos. Diz Garcia que mesmo as religiões surgem na história segundo a perspectiva do poder. O próprio nome lembra-me esse realismo. Game of Thrones indica com precisão a busca do poder, do trono.