#000276 – 20 de Agosto de 2020

Há metáforas com vida longa. Digo ainda “a página em branco”. Assim me refiro a esse vazio que me olha e evidencia a falta de palavras. No entanto, foi “um cursor a piscar”, numa intermitência implacável, que me assinalou a ansiedade. Nenhuma folha ou página. Cursor e piscar são talvez palavras com pouca verve. Imagino que mesmo depois de os ecrãs desaparecerem, num possível futuro de assimilação cibernética, continuaremos a dizer coisas como “virar a página”. Até os gestos feitos no ar, em filmes sci-fi, mimetizam o desfolhar de páginas. Isto talvez não seja novo. Uma arqueologia da linguagem encontrará decerto outros artefactos cuja origem se perdeu, mas de significado vivo.