#000284 – 28 de Agosto de 2020
O anarquismo não é uma identidade, é uma acção. Quem o diz é David Graeber. Certamente na Grécia isto é verdade. Os anarquistas recuperam edifícios, recebem refugiados, criam creches para as suas crianças, dão aulas de grego. Os anarquistas são os que não pedem permissão para construir. No resto do mundo é semelhante. Durante o último mandato do Rui Rio, eu vivia no Porto. E fui para a rua porque me convenceram a manifestar contra uma forma de destruição oficializada. Na altura, a mando da Câmara, a polícia tinha entrado num prédio recuperado onde funcionava, entre outras coisas, uma escola. E tinha destruído casas de banho e canalizações, para impossibilitar o uso das instalações . Quando a manifestação chegou à Fontinha, uma das zonas mais pobres do Porto, pareceu-me que havia uma solidariedade geral entre os moradores e as associações que se tinham auto-organizado para prestar auxílio. E doeu-me constatar a dupla ofensa do poder. Primeiro a falta de soluções para uma população pobre, depois a acção que destrói as tentativas não oficiais de ajuda. Na Grécia, infelizmente nos últimos anos houve ainda maior violência, com ataques de grupos de extrema direita a edifícios okupados. Num dos casos, havia mais de 100 pessoas, incluindo crianças, a dormir dentro de um edifício atacado que foi posto a arder. Ainda assim, em pouco tempo, voltou a ser recuperado. Esta coragem e esta força solidária dos anarquistas e de muitas pessoas que nem sequer estão preocupados com uma denominação envergonha-me pelas vezes que uso a palavra anarquismo. Faço nada pelos outros. Escrevo.