#000285 – 29 de Agosto de 2020

Leio sobre o sistema solar. Tudo me parece alienígena. Há por exemplo rochas que apanham boleia dos planetas. São corpos celestes que co-orbitam o sol. Júpiter tem mais de 7 mil confirmados. Chamam-se troianos. Aqui entra a mitologia grega, a ficção científica e a astrofísica.

O livro de Liu Cixin chama-se “The Three-Body Problem”. Este é um problema científico por resolver. O nome da mais prestigiada obra de ficção científica chinesa vem de um ensaio do século 18, “Essay on the three-body problem”, de Joseph-Louis Lagrange. Lagrange e Euler descobriram os cinco pontos de equilíbrio orbital num sistema com dois objectos de grande massa.

Os três corpos referidos são, por exemplo, dois planetas e uma estrela ou mesmo três estrelas ou três planetas. O que se sabe sobre a gravidade é suficiente para calcular as órbitas de dois objectos. Por exemplo, de uma planeta e uma estrela, ou de um planeta e a sua lua, ou mesmo de estrelas binárias, como as duas estrelas do sistema Sirius. Mas basta haver mais um corpo de massa semelhante e as equações da nossa ciência não conseguem prever o que acontece. Não é possível saber se vai haver colisão, afastamento, equilíbrio. É uma incerteza caótica.

Os pontos de Lagrange são uma solução muito específica. Trata-se de pontos em que um terceiro objeto, de massa muito mais pequena que os outros dois, fica em equilíbrio. Isto foi descoberto por Lagrange e Euler antes de existirem os métodos atuais de observação.

Agora, sabemos que dois dos pontos de Lagrange na órbita de Júpiter são ocupados por milhares de planetesimais (a minha mais recente palavra favorita). E os nomes dos objetos vêm da Guerra de Troia. No grupo de Achiles (este é o nome do primeiro troiano de Júpiter que foi descoberto) os asteroides têm nomes de heróis gregos. E no outro grande grupo os planetesimais têm nomes de heróis troianos.

Numa conversa com Heisenberg que é referida em “Quantum: Einstein, Bohr and the Great Debate About the Nature of Reality”, Einstein é citado numa observação muito interessante sobre a abordagem científica. “Although it might be heuristically useful to bear in mind what one has actually observed, in principle, he [Einstein] argued, 'it is quite wrong to try founding a theory on observable magnitudes alone'. 'In reality the very opposite happens. It is the theory which decides what we can observe.”

Ao olharmos o céu, sobretudo através de um olhar científico, é a teoria que temos, a máquina lógica que construímos, que nos permite descobrir umas coisas e outras não. O que encontramos, de facto, vai aumentar o nosso arsenal de ferramentas científicas. É uma pescadinha de rabo na boca cujo abocanhamento aumenta o que é trincado.