#000293 – 06 de Setembro de 2020
Os seres humanos serão obsoletos. Esta obscenidade é também um absurdo. Para uma peça se tornar obsoleta, é preciso primeiro que seja necessária. Pensemos então que os seres humanos são necessários, por enquanto. Há que perguntar, necessário a quem? A única resposta seria: às máquinas. As máquinas, não sendo ainda autónomas, por enquanto necessitam de nós. Mas chegará a altura em que seremos obsoletos. Este é absurdo. Uma máquina não precisa de nada, não deseja nada, não tem falta de nada. Serve uma função. Ao contrários dos seres humanos, que poderiam muito bem não existir e nenhuma função desapareceria com eles. Os seres humanos colocam questões. Sofrem. Atribuem e reinventam significado. Por máquina podemos entender um sistema de poder ou um software. Num e noutro caso, temos de decidir que funções têm estes sistemas na nossa vida. E não que função resta para as pessoas, como se os únicos lugares disponíveis fossem os reservados a peças de uma máquina.