#000298 – 11 de Setembro de 2020

As personagens não falam. Quer dizer, não se queixam ao escritor. O seu desconforto traduz-se na escrita, revela-se numa simples leitura em voz alta. Quando as imaginamos a reagir de certo modo, às vezes surpreendem-nos. Mostram a ignorância com que as tentámos manipular. Aliás, não se consegue manipular uma personagem. O processo de escrita não é um teatro de marionetas, a ensaiar os atos, o enredo e os diálogos. No que toca às personagens, é antes o fôlego com que se sopra vidro ainda quente. Às vezes sai uma coisa disforme, irreconhecível, outras quebra-se.