#000311 – 24 de Setembro de 2020

Fiquei 20 anos sem escutar Nirvana. Era tudo tão intenso e agreste e belo. Mas o suicídio de Kurt Cobain tornou as letras insuportavelmente premonitórias. Estava tudo lá, até o nome que Cobain queria dar ao último álbum. Além de o amar, fiquei a detestar Kurt, por nos ter deixado. O olhar de Gus Vant Sant, no filme Last Days, é de uma ternura imensa. Evita todas as armadilhas ficcionais da morte prematura do artista: o “glamour” da autodestruição, a hipervalorização da vulnerabilidade, o complexo de mártir. Antes mostra a terrível solidão, a fronteira da insanidade, o medo de existir. Detesto-te ainda hoje, Kurt. Detesto-te. Porque nos abandonaste neste mundo, órfãos do precioso escárnio com que o descrevias.