#000314 – 27 de Setembro de 2020

E se a morte um dia deixasse de matar pessoas? E se a península ibérica se separasse do resto da Europa? E se toda a gente começasse a cegar? Estas premissas fizeram com que Ursula K. Le Guin considerasse Saramago um escritor de Ficção Científica. As denominações, no entanto, não são importantes. Muito menos universais. Le Guin sempre recusou que a sua ficção fosse especulativa, adjetivo aliás que não lhe inspirava nada de bom, enquanto Margaret Atwood tem preferido chamar ficção especulativa a livros seus como The Handmaid's Tale. Uns escritores tentam fugir de “acusações” de que escrevem literatura de género. Outros exploram as suas possibilidades: China Miéville, enquanto novo, afirmou que publicaria um livro em cada género, e quase cumpriu; M. John Harrison tem jogado com as estruturas de alguns géneros literários produzindo alguma da ficção em inglês mais influente. É irresistível o uso de etiquetas, como weird fiction, ao tentarmos descrever o que vários livros de uma época ou movimento têm em comum. Mas assim que um género tem fronteiras definidas, os escritores subvertem tudo de novo.