#000349 – 01 de Novembro de 2020
Escrever sci-fi é ser pastor de universos. Pastor não, jardineiro. Muitos mundos são criados, antes ainda da narrativa e das personagens. A maioria não é viável. Quase todos se revelam inóspitos para as personagens. Há aqueles em que investimos histórias, em que passamos também a habitar, num sonho lúcido permanente que se sobrepõe à realidade. E que visitamos com assombro porque as personagens os foram modificando com uma autonomia de pessoas fictícias. Cuidamos desses rebentos como quem escuta. Alimentamos as personagens com a narrativa. Nem sempre corre bem. Um rebento seca, um livro se interrompe ou acaba estéril. Mas há casos em que um mundo novo, semelhante ao mundo que habitamos e mal conhecemos, fica à disposição de se ler, para deflagrar na imaginação.