#000355 – 07 de Novembro de 2020
A caneta de aparo espalha a tinta. Voltei a escrever diariamente os meus sonhos. Iniciei exercícios de escrita no que me custa mais: primeiro a descrição de personagens, a seguir serão os diálogos. Desenho ocasionalmente. Tomo notas e planeio. O aparo risca o papel, no ponto exacto entre aspereza e suavidade. As linhas têm carácter, mesmo com uma caligrafia desinteressante como a que consigo produzir. Daqui a dez dias faz um ano em que escrevo diariamente aqui. E mais de 30 dias que escrevo consecutivamente para o meu livro. Sou bipolar. O meu humor é feito de solavancos e mudanças, mais ou menos bruscas, mas inevitáveis. Com os anos, passei a saber suavizar um pouco mais o gráfico do meu humor, e evitar picos e vales tão escavados. E, sobretudo, a perseguir a estabilidade. Para alguém como eu, o equilíbrio é tão exótico como para outros a excentricidade. Nada me fascina mais do que uma personalidade caseira, sossegada e introspectiva como a de Ursula K. Le Guin. E pelo contrário, aborreço-me com artistas autodestrutivos e caóticos. Tento usar a inevitável confusão dos meus pensamentos como matéria prima, ou pelo menos como espinho que me faz mover. Mas é com claridade, consistência e esforço que termino as coisas importantes para mim.