#000367 – 19 de Novembro de 2020

Quando eu era adolescente, o anti-racismo começava por rejeitar em absoluto o conceito de raça. Isso era a fundação para o combate contra sistemas e crenças opressivas, ideias de supremacia ou de legitimação colonial. Durante séculos, as potências coloniais se separaram de outros povos, invocando diferenças irreconciliáveis, pondo em causa a humanidade dos subjugados. Isto tinha como base distinções morfológicas como a cor da pele e a fisionomia. Era uma forma de desumanizar o outro, de o inferiorizar e tornar indigno de compaixão ou respeito. Impossibilitava a ideia de igualdade entre povos diferentes, populações distintas. Mesmo em pleno séc. 20, regimes como o Apartheid e a Segregação sustinham legalmente o racismo institucional, a separação das pessoas em categorias de merecimento e acesso. Era a continuação da herança da escravatura. Isto não acabou. Há ainda formas de repressão e exclusão que são o legado de séculos de violência. Muita gente lutou, morrendo mesmo, contras estas ideias. A própria ciência, finalmente e com séculos de atraso, veio dizer que o que se vê exteriormente é superficial, não existem diferenças substantivas entre seres humanos. Mesmo a genética o comprova. Mas a cultura americana que nos chega pelo ecrãs, que nos coloniza culturalmente há muitas décadas, vem defender o oposto. Sim, dizem as culturas identitárias americanas, existe raça. Sim o superficial é importante. E negá-lo é coisa de racistas (dizem os defensores do pensamento cultural único) ou coisa de fracos e inferiores (dizem os defensores da supremacia branca). É preocupante não haver ainda, entre as pessoas de boa-vontade, entre humanistas, uma base comum para se defender os direitos humanos e se combater a xenofobia e o racismo que, sim, infelizmente são sistémicos e se perpetuam nas nossas instituições e nos nossos comportamentos.