#000369 – 21 de Novembro de 2020
A curiosidade motiva-me. Escrevo sem saber ainda o que vai acontecer às personagens. Surpreendo-me com as suas decisões. Uma estranha autonomia, feita de coerência contra as minhas expectativas, deixa-me perplexo. Desentendo os acontecimentos da narrativa. Demoro a ganhar intuição em relação ao significado das coisas. Escrever é ler marcas na areia. Há vestígios de algo que já se passou no futuro. Esta praia, um paradoxo temporal, tem marés que revelam o que irá acontecer. Mas as ondas constantes da memória do impossível lavam as marcas que apenas a intuição pode reconstituir. Errar é o mais provável. Tudo acontece num mundo parcial, incompleto, contraditório, cheio de inclinações e preconceitos, mas ainda assim com átomos de infinitude: a imaginação.