#000371 – 23 de Novembro de 2020
O Neil Gaiman escreve em papel. Há algo de ancestral nesse acto de ter um livro a que se acrescentam páginas. Não um ficheiro ou uma cópia na nuvem. Eu teria medo de saber que num único objecto se encontra tudo, que toda a história está ali. Talvez esse sentimento de algo absolutamente precioso ajude a escrever de uma outra forma. A Dulce Maria Cardoso, pelo contrário, escreve uma primeira versão que a seguir apaga. Totalmente. Quando reescreve, é a memória que a ajuda. O Murakami traduz para inglês (língua que não domina) a primeira versão. Limpa de excesso o texto. E a seguir volta a traduzir para japonês. O ofício do escritor, esse cuidador da linguagem, assemelha-se ao de um escultor.