#000373 – 25 de Novembro de 2020

O confinamento reforça uma certa hegemonia. A ideia, perversa, de que a política importa pouco, os governos são meras orquestrações e fachadas e a experiência de cidadania apenas se concretiza no consumo de bens digitais. Esta mediação das nossas vidas sociais e do nosso trabalho tem prestado um enorme serviço à legitimação do poder dos gigantes de Silicon Valley. O papel do bilionário empreendedor enquanto salvador da humanidade, arauto da utopia, que antes de 2020 já vinha sendo disputado, ganha um novo, talvez curto, fulgor. Mas é precisamente porque há tanto poder em tão poucas mãos e porque se trata de um poder no qual os cidadãos não participam que a política importa. Importa sabermos o que queremos e de que maneira é que queremos construi-lo-lo. Importa saber como podemos colaborar, que conversas são mais urgentes, que interdições inaceitáveis, que perguntas estão por fazer.