#000390 – 11 de Dezembro de 2020
Voar. Parte da humanidade está no ar. Em 2014, o jornal The Guardian comemorou os 100 anos da aviação comercial com um mapa interativo. Dizia a publicação que cerca de meio milhão de pessoas estão, estavam, a atravessar os céus. Não faço ideia quantas pessoas estarão a partilhar a atmosfera comigo enquanto regresso a Portugal. Mas ainda me impressiona a ideia de que uma parte razoável da humanidade, a cada instante, está dentro de uma máquina voadora. Talvez no futuro passe a haver linhas de alta velocidade a ligar continentes por debaixo dos mares, como já existem para algumas travessias de muitas dezenas de quilómetros na China, no Japão, na Coreia, na Suiça ou no Canal da Mancha. Já somos habitantes de todos os territórios e climas. Passageiros subterrâneos, aéreos e de superfície. Mas este crescimento trouxe poluição, destruição de recursos naturais, extinção em massa de espécies, mudanças climáticas, secas, cheias e tempestades mais imprevisíveis, frequentes e devastadoras. E prevê-se que zonas agora muito populosas se tornem inabitáveis, levando muitos milhões de pessoas a fugir, como agora fazem os refugiados da guerra. As próximas décadas, a julgar pelo nosso pessimismo fundamentado, poderão suplantar as distopias de hollywood. Haverá ainda ficção científica daqui a 20, 30, 40 anos? É preciso um depósito de sementes da imaginação humana, como o que existe em Svalbard para as sementes das plantas terrestres.