#000506 – 06 de Abril de 2021
Ao contrário da experiência do cinema, a leitura é uma imersão lúcida. Consideremos um filme e uma história escrita diferentes formas de alucinar. Então o cinema seria um psicadélico e a literatura meditação. Um filme produz, na nossa percepção, a viagem, a narrativa, a atmosfera, as sensações. Uma história escrita conduz-nos, como a voz de um guru, para que possamos a seguir ter a autonomia de nos apercebermos dos nossos pensamentos. A falta de controlo do espectador no cinema, em que tudo acontece sem que o possamos desligar ou interromper, é gratificante. E é muito diferente da forma de sonhar de olhos abertos na leitura, em que temos noção ao mesmo tempo da realidade e da alucinação. Escrever é deixar um rastilho que arde do sonho à realidade e que nem ter de ser aceso. Ao ler, basta intuir a intensidade da ignição.