#000534 – 04 de Maio de 2021
Fracasso. Basta ver o Roof Culture Asia, o Free Solo ou o Chasing Niagara para perceber que o foco destes atletas não é o que fazer se tudo correr bem. Nem sequer como aumentar as chances de correr bem. A maior preocupação é eliminar as hipóteses de fracasso. Mais ainda, é antecipar todas as formas que o fracasso pode tomar. A enjoativa ideologia do sucesso esquece que o fracasso é o mais provável e o mais importante. A palavra risco, associada à atividade de um empreendedor, torna-se obscena. “Arriscar” não ganhar uma fortuna não é risco. Na indústria motivacional, compara-se as vidas e os comportamentos dos que tiveram sucesso. Faz-se correlações e infere-se que o que estas pessoas, uma percentagem ínfima dos que tentaram, têm em comum é a explicação dos seus sucessos. A amostra dos que fracassaram é imensamente maior. Seria muito mais revelador descobrir padrões no seu percurso. Ninguém que tenha mesmo tudo a perder, às vezes a própria vida, ignora o que tem a perder. Seja em desportos perigosos, seja a alimentar uma família, seja a combater um regime autoritário. O jogo dos que arriscam de verdade não é um jogo. A vida não é capital de risco. Sobreviver não dá medalhas.