#000536 – 06 de Maio de 2021
Escrever é ceder a um impulso sombrio. O de avançar por terreno desconhecido. Como numa realidade virtual em construção, os primeiros passos tornam claro que não existem o mundo e os seres que se procura. Não é que se busque nada, ou que se queira algo inalcançável. Trata-se apenas de caminhar sem ter chão. Continuar a escrever é assentar as lages em que se vai pisar. Na ficção científica este contexto está sempre presente. Mas em qualquer narrativa o ofício é semelhante. A noite a que nos atiramos vai sendo iluminada pela luz acossada do nosso olhar aflito.