#000566 – 05 de Junho de 2021

Não encontro forma de evitar este paradoxo. À medida que me apercebo da dimensão da minha ignorância, acumulo opiniões sobre coisas que não entendo. Esse lastro deveria ficar para trás. Mas vou-me blindando com pontos de vista pouco fundamentados. É verdade que mudo, que chego a pensar o oposto do que pensava. E que mantenho abertura a coisas novas. Mas faz pouco sentido, por exemplo, eu achar que a matemática não descobre números (e outros conceitos), antes vai desenvolvendo formas de descrever a realidade. É ridículo da minha parte tomar a posição oposta a John Conway, se não percebo nada de matemática. A maior parte das vezes, a opinião que formo coincide com a de pessoas notáveis. Tal como John Searle acredito que simular inteligência não é replicá-la e que machine learning com grande capacidade sintática está ainda muito longe de produzir ou entender semântica. E tal como Roger Penrose, acredito que a compreensão não é algorítmica. Isto não mostra a minha modéstia. Antes revela que escolho as ideias que a minha intuição prefere. Aprender é ganhar consciência dos meus vieses.