#000588 – 27 de Junho de 2021

Sim, gosto de histórias sem personagens. Não é só o caso d' “As Cidades Invisíveis”. Gosto de ensaios históricos, de ficção científica escrita ao jeito dos romances históricos. Gosto que sejam o tempo, o lugar, a cultura o centro da narrativa. Gosto que tenha pessoas a história. Mas sinto-me defraudado quando um momento da história ou uma premissa verdadeiramente original servem apenas como pano de fundo de um drama pessoal, de um amor ou uma traição. Talvez por isso me tenham desapontado tanto os filmes biográficos dos últimos anos, “sobre” Freud, Milgram, Hawkins. Quando o legado de uma figura destas é tão importante, que se tenham casado ou divorciado é francamente banal. Conhecer a pessoa por detrás do cientista é que é o verdadeiro cliché. Quero conhecer o cientista, o poeta, o músico que determinada pessoa se tornou. Nisso, filmes biográficos de outras décadas são muito mais interessantes que estes mais recentes. É o caso de “Bird”, sobre Charlie Parker e de “Lenny” sobre Lenny Bruce. Isto tudo faz-me apreciar as personagens ainda mais. Talvez só a ficção científica me dê tudo. No seu melhor, nada serve apenas para fazer brilhar um outro aspecto. Changing Planes, da Ursula K. Le Guin, é quase uma versão d' “As Cidades Invisíveis” com personagens. E a construção do mundo da trilogia Broken Earth da N. K. Jemisin é tão maravilhosa como as suas personagens.