#000592 – 01 de Julho de 2021

O professor tirou a barra e ficou apenas o colchão. Era o dia da avaliação, tínhamos talvez uns 14 anos. Por algum motivo que só a tradição e nenhum bom senso explica, era obrigatório que todos fizéssemos o salto em altura. Eu até gostava desta aproximação a algo de olímpico e da forma objetiva de medir uma capacidade. Mas para alguns colegas estes momentos eram mais que embaraçosos, eram humilhantes. E reconheço agora que, sendo a atividade física algo saudável e que deve começar cedo, aquelas aulas de Educação Física não eram inteiramente dignas desse nome. Para alguns, foram a gota de água, numa pré-adolescência em que a relação com o corpo estava a ser difícil. Penso que foi o caso deste meu colega que não conseguiu saltar por cima da barra. Quando o professor a retirou, pedindo-lhe que saltasse ao menos para cima do colchão, já a humilhação e o nervosismo tinham amplificado a dificuldade em executar os movimentos que o professor queria ver avaliados. Passados 30 anos, faço exercícios com halteres. Mas uso apenas as barras, retirei os pesos. Tento recuperar alguma da mobilidade que este corpo perdeu. Ao menos não tenho uma aula inteira a olhar para mim.