#000714 – 12 de Agosto de 2021

Não gosto da expressão “a minha verdade”. É esquiva. Dizer que cada pessoa tem a sua verdade sugere tolerância para com formas diferentes de descrever a realidade. Na prática, quando alguém se defende de uma crítica dizendo “esta é a minha verdade”, deixa claro que não tem tolerância em relação à diferença. Isto de possuir a verdade é algo triste. É como ser dono de um terreno em que ninguém pode entrar, ser vizinho de outros terrenos em que não se entra e seus donos com os quais não se discute. Em vez de olharmos para o mundo todo e deixarmos que o mundo todo dialogue connosco, enclausuramo-nos de livre vontade nas ideias que já temos.

Verdade é conflito. Não há de mais polémico que a ideia de verdade. E depende mesmo de um esforço sincero a conquista da lucidez. A verdade, qualquer verdade, só é genuína se for falsificável, se puder ser revista, melhorada ou mesmo abolida. Caso contrário, não é verdade, é um sepulcro da razão chamado dogma.

Se acrescentarmos a este terreno de luta racional a perspetiva individual, não é certeza e monismo que adquirimos, é ambiguidade e refração. São estas posições diferentes em relação à realidade que fazem a verdade, que a conquistam e esculpem. Uma verdade pessoal não é um universo fechado, perfeito e intocável. É um ponto de vista, imperfeito, e que nasceu da influência e vive do confronto com todos os restantes. É o começo de uma conversa, não o seu fim. Uma semente de ideias novas, não um fetiche sagrado.