#000741 – 08 de Setembro de 2021
Duvido da hipótese convencional que explica o sucesso dos filmes de horror. A ideia de que se procura testar, de forma segura, emoções associadas a perigo, a medos profundos, a fobias. É uma explicação análoga à que se dá para fundamentar o gosto de algumas pessoas por desportos perigosos. Penso que num caso e noutro a explicação não resiste a uma observação mais atenta. Em desportos como a escalada, basta ver o Free Solo, escutar Alex Honnold, para ter um exemplo do que é mais habitual, um desportista sereno, sóbrio, dedicado a diminuir o risco e a evitar o perigo. A expressão viciado em adrenalina faz sentido nenhum. No caso dos fãs de filmes de zombies e outros subgéneros em que há muito sangue, penso que faz mais sentido pegar numa ideia do Ricardo Araújo Pereira, que diz que o humor permite olhar para o sofrimento e a morte com distanciamento, um distanciamento em relação a nós próprios. Parece-me que os fãs destes filmes procuram, longe da experiência de emoções e medos intensos, o seu contrário: a capacidade de se distanciarem de si mesmos, da sua habitual estrutura emocional. RAP diz sobre o humor negro que o seu alvo é o sentimentalismo. Assistir a um filme gore com zombies, proponho, terá um efeito semelhante para os seus aficionados.