#000769 – 06 de Outubro de 2021
Tenho sempre um certo receio de reler um livro de que tenha gostado muito. O livro, ou melhor, o conjunto de impressões, conflitos e pistas que me ficaram, continua a crescer no meu íntimo. Claro que não é o livro que o escritor escreveu e nunca foi. Mas agora, com vida própria, sabe defender-se, na glória dos seus erros, alguns com raízes fundas. E, é este o maior receio, se confrontado com uma outra versão do livro, uma outra amálgama de influências e ideias, poderia atirar-se a uma luta fratricida. A minha incoerente imaginação sci-fi atira-me com a imagem de dois monstros a lutar, com perturbantes semelhanças, como se ocupassem um mesmo universo, mas só houvesse espaço para um. A hipérbole deste medo, a fobia, é que o livro relido fosse a anti-matéria do livro lembrado. Que o anulasse e desmentisse por completo. E os dois se aniquilassem.