#000773 – 10 de Outubro de 2021

Pela primeira vez votei no Partido Comunista. O crescimento da direita populista e da politica identitária contribuíram para esta minha estranha escolha. Sou um anarquista que acha que a única forma realista de viver politicamente é a que David Graeber sugeriu, recorrendo ao exemplo da região Kurda de Rojava, e que é uma solução mista: um estado que existe por motivos pragmáticos e para que se possa ter relações com outros estados, mas que não tem nenhuma autoridade sobre os cidadãos. Estes, a segunda e mais importante parte da equação, associam-se livremente e decidem sobre o seu presente e futuro. Ninguém os representa, ninguém tem forma de os coagir. Não acredito, como um marxista, que é no Estado, por mais bem organizado e justo, que se encontram todas as soluções. Mas têm sido os marxistas americanos que mais me inspiram, que me sugerem um caminho alternativo a estas perigosas palermices da política identitária, sobretudo figuras como Touré Reed. Em Portugal, e isto diz muito sobre a desolação que sinto, é um humorista, Ricardo Araújo Pereira, a única pessoa de esquerda que tem sistematicamente enfrentado de forma pública esta doença americana que reduz toda a política ao discurso, às nuances da linguagem e ao activismo online.