#000798 – 04 de Novembro de 2021

Resolver um cubo de Rubick é reconhecer no caos uma estrutura, seguir padrões para regressar a um estado reconhecido. Escrever uma história é levar uma lanterna apontada ao vazio, começar a escutar ecos e ir falando a mim mesmo da minha incompreensão do caminho que estou a seguir. O sentido do que fica escrito não é o ponto de partida, é o objectivo fugaz. Demora muito a encontrar, às vezes anos. E nunca sei se o impulso que me leva a escrever irá ser ainda reconhecível. A história é esta híbrida construção de reconhecimento e desorientação, um edíficio autoreferente e que ambiciona uma muito concreta universalidade. Resolver um cubo de Rubick é treinar a rotina face à confusão. Escrever uma história é habituar-me à vertigem do desconhecido.