#000822 – 28 de Novembro de 2021
As histórias que crescem, que mudam connosco são histórias em que vivemos vidas de outras pessoas. Pessoas que nem existem e que não são o autor. O autor é o que inventou essas histórias, para que pessoas ficcionais quase vivam. De tal forma que nos acompanham, nos ajudam a falar do mundo. É possível um autor que só escrevesse narrativas na primeira pessoa, e em que o narrador fosse o próprio autor, e em que as decisões fossem claramente morais e heroicas, e os problemas sempre externos, na forma de obstáculos opressores. Mas este autor seria um péssimo mentiroso. No sentido de um criador pouco hábil ou pertinente. Merecemos melhor. Ursula K. Le Guin, no seu prefácio ao “The Left Hand of Darkness”, escreveu: “Distrust everything I say. I am telling the truth. / The only truth I can understand or express is, logically defined, a lie. Psychologically defined, a symbol. Aesthetically defined, a metaphor.”