#000824 – 30 de Novembro de 2021
Em português, temos receio do futuro. Pegamos nele com cuidado, com cauteloso rodeio. “Vou fazer”. Uma promessa vaga, uma sugestão de que o que se diz poderá acontecer. “Farei” parece ameaça. Expressão de tempos antigos mais rudes. Em francês é o passado em que se mexe indiretamente. “J'ai rêvé”, que dizemos em português “sonhei” soa mais a “tive um sonho”, coisa que nos aconteceu, não que fizemos de forma direta. Já o passé simple, com o seu nome enganador, dá-nos “je rêvai”, que nos apanha desprevenidos. Os sons vocálicos com que o passado simples francês finaliza parecem descabidos, insurrectos. Não faço ideia se isto reflete a forma como os falantes de uma e outra língua se relacionam com o passado ou o futuro. Nunca fiz e penso que não farei.