#000841 – 17 de Dezembro de 2021

Deixei de conseguir ver desportos de combate. Abro um vídeo no YouTube e desligo rapidamente. Aflige-me aquela violência. Ainda respeito a generosidade dos atletas que ali oferecem o seu corpo ao choque com um outro de mesmo peso e semelhante habilidade. De todos os tipos de violência física sobre um ser humano este é o único que tem algum tipo de dignidade. O karaté que pratiquei não era de full-contact e poucas vezes lutei. Aproximei-me da modalidade por duas vezes na minha vida, meses de cada vez. Lembro-me ainda do que sentia ao lutar. Perigo. Há uma descida a um estado mais primitivo, de defesa do que se é. É um lugar urgente e afiado, perigoso. Aos que aí se colocam livremente, respeito. Mas sempre fui um espectador relutante. Nunca assisti a um combate ao vivo, tirando os que aconteciam nos treinos, em que não havia grande contacto. Penso que não aguentaria um espetáculo desses. O que me custa é a parte exterior, o voyeurismo. Talvez o que me assuste seja imaginar que também eu tenho gosto em ver, que não é só repulsa que sinto ao assistir a duas pessoas a baterem-se em público.