#000869 – 14 de Janeiro de 2022
Leio Racecraft, de Karen E. Fields e Barbara J. Fields. Só agora aprendo que afirmar “black Southerners were segregated because of their skin color” é tão bizarro e cruel como seria dizer que uma vítima de violência doméstica foi espancada porque não se calava. A isto as autoras, irmãs, de ascendência afro-americana, chamam racecraft. A esta habilidade da linguagem que faz desaparecer o agressor da nossa explicação do racismo. Avisam Karen e Barbara: o racismo não é uma emoção ou um estado de espírito, como a intolerância ou o ódio. O racismo, corrigem, é acima de tudo uma prática social e a defesa racional dessa prática. No nosso discurso identitário habitual as categorias inventadas pelos racistas são naturalizadas como se de facto existissem. Esta manobra faz com que o racismo, algo que o agressor faz, seja transformado em raça, algo que o alvo da agressão supostamente é. Aceitando a noção de raça como facto biológico, estamos a interiorizar o raciocínio racista. Não existem raças, conceito inventado para defender o colonialismo e a escravatura e para separar seres humanos uns dos outros, permitindo a subjugação de uns pelos outros. Não existem raças.