#000919 – 05 de Março de 2022
O murro no vidro da janela despertou-me. Havia mesmo ao lado do agressor um rapaz com cara e tatuagens de gangster, como eu incomodado com aquela agressividade. Teria uns 20 anos e o murro deu-lhe ainda mais confiança. Era uma agitação como a de quem snifou cocaína para ganhar balanço para algo mau. Desatou a falar de porrada com um amigo, que sorria, desfrutando também da intimidação gerada. Ocupava muito espaço e dava murros no ar, desviava-se de murros imaginários. Olhava na minha direção, na direção do vizinho das tatuagens, que quase recebeu o impacto de um desses murros de treino. O rapaz com aspecto de gangster mudou de carruagem. E quando percebi que aquele moço se ia encontrar com amigos no estádio, decidi também sair. Lembrei-me de imediato de escutar membros de uma claque a gabar-se de como atacaram membros de outra claque, de quão inesperado e implacável foi o ataque. A violência assim, como desporto, é de uma obscenidade insuportável. Peguei na bicicleta e saí.