#000921 – 07 de Março de 2022
Zizek e Horvat discutem. Gestos violentos, olhos esbugalhados, fúria argumentativa. Estão felizes, atiram-se um ao outro com esse respeito intelectual de quem não tem medo de defender o que acredita, de quem arrisca perder a argumentação, ter de aprender algo novo, mudar de ideias. Na Grécia vi muitas vezes amigos a discutir assim. Como se se agredissem, sem reservas, desejando mesmo que não se saia incólume de uma discussão. Horvat durante anos moderou palestras de Zizek, numa posição mais modesta e de opiniões resguardadas. Aqui, no Teatro Nacional de Zagreb, não mostra nenhuma reserva. Zizek está no seu meio, e parece-me mesmo que nunca respeitou tanto Horvat. Os dois conhecem bem o pensamento um do outro. Sabem como se provocar mutuamente, como construir ou fazer desabar pontes. Tenho saudades desta forma de discutir, que o meu amigo do coração Afonso sempre me permitiu, esta abertura às ideias do outro que se alimenta do confronto de posições distintas. Como Graeber dizia, conversar é estar consciente.