#000949 – 04 de Abril de 2022
Gosto do Jon Stewart. Por isso me custa tanto o que ele fez ao Andrew Sullivan. Em vez de ter a coragem de convidar académicos afro-americanos como as irmãs Fields ou Adolph Reed Jr., Stewart convidou um conservador para uma triste performance de virtue signaling. Sullivan foi humilhado, insultado e usado como exemplo de racismo, de tudo o que está mal. É verdade que Sullivan tem uma posição conservadora e com uma resposta muito limitada à realidade material da população afro-americana. Mas Jon Stewart poderia falar com Adolph Reed Jr., que ainda sofreu na pele a segregação e que toda a vida estudou o racismo na América, a escravatura, o regime de Jim Crow. Ou Karen E. Fields e Barbara J. Fields que explicam bem o que está na raiz da desigualdade nos Estados Unidos. Andrew Sullivan, uma e outra vez perguntou a Jon Stewart para lhe dizer então a que sistemas, a que estruturas Stewart se estava a referir. Stewart não foi capaz de responder a estas perguntas e chegou mesmo a dizer que um desses sistemas foi o New Deal. Stewart retratou Andrew Sullivan como alguém que se nega a encarar a realidade e que não quer ser posto em causa no seu white privilege. Mas a crítica que Andrew Sullivan tentou fazer a Jon Stewart bem poderia ter sido feita por Touré Reed, que explica em “Towards Freedom” que um dos erros de análise da política identitária é falar em racismo estrutural mas depois definir o racismo como um conjunto de sentimentos, de atitudes, de viés inconscientes, coisas que se passam na psicologia de cada um, e não têm nada de estrutural. As irmãs Fields explicam, de forma muito clara o que é o racismo: é uma prática social e é a ideologia que sustenta a prática. No episódio de “The Problem with Jon Stewart é muito esclarecedor o segmento em que é definido o racismo. Tudo o que foi feito naquele programa foi Racecraft, explicado por Karen E. Fields e Barbara J. Fields no livro com esse nome. Ali, Jon Stewart, na pior tradição neo-liberal, transformou racismo em raça, evitando falar do essencial, garantindo que tudo fica na mesma. Os liberais americanos não querem saber dos pobres, cada vez alienam mais a classe trabalhadora, como dizia Vivek Chibber, aos probres brancos é dito que a culpa é completamente deles, se nem com o privilégio da cor da sua pele conseguem ter sucesso é porque merecem a miséria a que foram atirados. Assim, a extrema direita continuará a crescer. Vivek, os Reed, e as Field todos têm a pele escura, Vivek é de origem indiana, as Field e os Reed são afro-americanos.