#000951 – 06 de Abril de 2022
Envelheci prematuramente em algumas coisas. Não tolero o barulho na rua. Agride-me de forma pessoal a algazarra de um grupo de pessoas perto da minha janela. Fico alterado, enfurecido. Tenho dificuldade em controlar o meu temperamento. Pareço uma caricatura de mim mesmo, um velho rezingão, que não quer visitas e reage mal a tudo o que vem de fora. Sou uma personagem de filme mau, um bruto, isolado e mal-disposto. Os meus amigos e os meus colegas de trabalho conhecem o meu lado bom. Aos amigos falo desta minha impaciência, e parece uma excentricidade. Riem-se com ternura do meu defeito. Já a minha família conhece de mais perto estas arestas aguçadas de uma personalidade que vai azedando. Eu fico entristecido comigo. Gostaria de ir ficando mais e mais enamorado do mundo, como Yongey Mingyur. Mas é no sentido contrário que caio, encolho-me no recanto dentro de mim que o confinamento instituiu e que se tornou demasiado confortável. Há que furar esta redoma que nunca será suficientemente grande e estanque. Encontrar forma de ser menos sensível ou meio de gerir melhor a raiva.