#000960 – 15 de Abril de 2022
Um dia, no trabalho, noutro emprego, um formador lançou um desafio aos formandos. Disse-nos que tinha a certeza que não éramos capazes de deixar o telemóvel em casa um só dia. Aquilo feriu-me. E sem dizer nada a ninguém, no dia seguinte deixei o telemóvel em casa. Ao fim do dia, lembrei-me de tudo. Tinha-me esquecido, porque durante o dia inteiro não me lembrei sequer do telemóvel. Nos poucos anos que passaram, cinco, penso que não deve ter mudado muito. Gosto da ideia de o telemóvel não estar agarrado a mim, nem eu a ele. Penso nele como um telefone, que pode estar noutra divisão, que posso deixar em casa, ao sair. Ficaria muito preocupado se isto mudasse radicalmente. Tenho a sorte de este engenho só ter entrado na minha vida quando eu tinha uns 23 anos. Todas as minhas interações sociais, durante a adolescência, foram feitas sem a mediação do telemóvel. Embora nem sempre tenha isto presente, o mundo em que cresci, socialmente, emocionalmente, foi muito diferente do mundo em que alguém que tenha agora 23 anos cresceu.