#000969 – 24 de Abril de 2022
Um dia, vi uma mandala a ser construída. Foi talvez o meu último momento de reverência religiosa. Quase me descalcei e tratei o silêncio como uma tela merecedora apenas do ruído dos instrumentos de areia dos monges. Nas últimas vezes que estive próximo de rituais religiosos, mostrei-me respeitador mas apenas da reverência das pessoas à minha volta. O sagrado deixou de ser a forma de eu entender a transcendência. É a música, o beijo, o riso, o abraço, o usufruto do que é mais primário e direto que me comove. Quanto mais próximo da pele, quanto maior a afinidade com o coração, mais divino me parece. A vida, o melhor que ela permite, é o que é material, desde os interstícios do microcosmos das células, até ao respirar das sociedades, desde o mais ínfimo até ao mais vasto. Mistério é o nome preguiçoso com que nomeamos o desconhecido.