#000971 – 26 de Abril de 2022
Os escritores foram escrevendo diários. Na sua intimidade, enchiam páginas, tendo presente que um dia, provavelmente, seriam lidas e até publicadas. A ideia do diário do escritor é paradoxal: ao mesmo tempo que sugere o acesso a um mundo mais pessoal, da esfera privada, existe porque o escritor soube preparar o seu espólio. A correspondência, os diários, as notas, tudo isto é o tesouro que o escritor não enterra, deixa à mão de semear. Aqui, não é isso que faço. Escrevo, antes, de forma pública. Paradoxalmente, também. Escrevo como se ninguém me lesse e nunca o fosse fazer. É como um ato clandestino, a minha escrita diária, que consigo executar às claras, sem ser apanhado pelos leitores.