#000996 – 21 de Maio de 2022

Continuo muito desiludido com o Jon Stewart. Ainda hoje me custou muito ouvi-lo referir Lenny Bruce e a forma ele “foi preso e levado a tribunal por dizer palavras”. A forma como Andrew Sullivan foi tratado no programa de Stewart, ao ponto de o interromperem e dizerem que não o iriam escutar, não me sai da cabeça. Diz Stewart, na cerimónia em que George Carlin é homenageado, que as palavras obscenas que Carlin usou em palco, e se tornaram um dos bits mais reconhecíveis de Carlin, agora fazem parte dos títulos do Netflix. Isto ainda é mais difícil de engolir. Custa-me a acreditar que, por exemplo Lenny, o bio-pic de 1974, com Dustin Hoffman no papel de Lenny Bruce, passasse no Netflix sem gerar controvérsia. Há uma cena em particular que seria impensável hoje em dia, que sendo uma das cenas mais humanizantes e ternas, hoje seria denunciada e motivo de cancelamento. Que esta é a cultura em relação ao discurso, não me surpreende. Mas Stewart era um dos meus heróis e custa-me vê-lo próximo desta moralidade neo-liberal, que desistiu dos pobres, tem mesmo nojo deles e se limita a sinalizar a sua própria virtude.