#001009 – 03 de Junho de 2022

Uma das maiores influências no sci-fi que escrevo talvez seja inesperada. As histórias de pessoas que conseguiram sair de cultos, de grupos religiosos ou políticos fundamentalistas é uma enorme inspiração. Sobretudo as narrativas de pessoas que já nasceram numa dessas comunidades agressivamente fechadas ao exterior. É incrível que alguém consiga reconstituir a sua ideia do mundo e da humanidade quando a estrutura lógica e emocional que tem é tão intransigente e obscura. Isto estimula a imaginação e faz-me mesmo acreditar na reabilitação de pessoas que parecem perdidas para o convívio com os outros. Se alguém consegue usar uma infância de mentiras e preconceito para articular uma defesa do seu contrário, se alguém consegue usar o fundamentalismo para descobrir a sanidade, então menos coisas serão impossíveis a uma mente humana. Devoro documentários sobre estas vidas, e muitas das histórias que escrevo tem algo disto, alguém que reconfigura a sua vida, aparentemente sem ter os ingredientes necessários.