#001010 – 04 de Junho de 2022
Crescer rodeado de montanhas ou ao pé do mar será muito diferente. Eu, que cresci ao pé do mar, habituei-me a uma estranhamente natural intuição do infinito. Imagino, sem nenhum fundamento, que crescer com a presença constante de montanhas ao nosso redor contribua para uma intuição sobre a magnitude do mundo a que pertencemos, talvez até sobre a nossa dimensão. O mar é coisa que não se vê enquanto mar. Não temos, ao pé dele, uma visão da sua dimensão. Estar ao pé do mar é estar ao pé de uma margem que não parece ter congénere. É como se onde estamos começasse algo que não acabará. Já as montanhas, parece-me, têm uma solidez imutável e uma dimensão esmagadora que, por contraste, nos fazem ter noção da nossa pequenez. Ainda assim, talvez uma e outra intuição dependam muito mais de características pessoais, do temperamento, do que da geografia em que crescemos.