#001028 – 22 de Junho de 2022
Já escolhi a nova tatuagem. Mas agora, ao contrário dos últimos anos, custa-me muito a ideia de gastar tanto dinheiro para alterar o meu corpo. O dinheiro que gastaria a cobrir o que falta do braço direito serve-me para muitos quilómetros de bicicleta, para equipamento, viagens e ar puro. Vou continuar a fantasiar com a tatuagem, algo que venho fazendo já nos últimos dois anos. Cheguei mesmo a marcar e a cancelar uma sessão, porque não pude vir a Portugal na altura. Agora que voltei, mudaram prioridades. Ter mais dinheiro do que o que tenho seria ter menos escolhas para fazer. Ou talvez tudo se reconfigurasse e faltasse sempre algo. Sei que mais cedo ou mais tarde vou tatuar aqueles centímetros quadrados de pele. Antes ainda de publicar este texto, procuro novidades da minha tatuadora. Está em Portugal, perto de mim. O desejo é excesso, já diz o Zizek. E o consumo é buraco negro. O corpo, como Cronnenberg lembra a propósito do último filme, é a essência do humano, é tudo: a realidade.