#001053 – 17 de Julho de 2022

É o mesmo comboio da minha juventude. Os mesmos bancos grandes e confortáveis, em que cabem três pessoas, com encosto para cabeça. O tecto muito alto, as janelas que abrem. É o interregional que apanhava em Coimbra para ir até ao Porto, há quase 30 anos. E agora uma das carruagens foi adaptada, cabem 12 bicicletas. Vai do Porto ao Pocinho. Chego a Livracão, as janelas abertas refrescam a carruagem. Sou o único português nesta carruagem quase vazia. Há uma quietude que se dissolveu nas minhas células. Lembro-me das viagens, das conversas que tive neste comboio, num interregional como este. Isto faz ligações difíceis de descrever, entre a pessoa que fui e aquela em que me estou a tornar. Sinto-me grato porque envelheço. E tento fazê-lo devagar, bem devagar.