#001082 – 17 de Agosto de 2022
I see you. É a frase que mais me confunde. Cresci em sítio minúsculo, em país pequeno. Toda a gente me conhecia, todos sabiam de cada passo meu, onde ia e com quem, sempre. Era visto, a toda a hora. Quando fui viver para a cidade, ser anónimo, ninguém me conhecer, não ser visto nem reconhecido, foi a liberdade mais surpreendente e deliciosa que a vida me ofereceu. Quando a internet se tornou assim, persecutória e vigilante, omnipretensiosa e totalitária, continuei a desejar não ser visto. A dor que as personagens dos filmes americanos expressam de não serem vistos parece-me apenas isso, coisa de personagem, sentimento ficcional. Quando viajo sozinho, de bicicleta, são os momentos passados entre árvores, que nem sequer registo com fotos ou texto, que mais me alimentam. É ali que me encontro, no silêncio, em que escuto os meus medos, a minha voz, sem julgamentos, sem horário ou objectivo. Que não me vejam, que não me meçam nem me encham de ruído e assunções sobre o que sou ou necessito. É isso que desejo. Please, do not see me.